terça-feira, 9 de julho de 2013

Amor Cronometrado

A mulher geme no quarto
coitada na madrugada


E batem à minha porta
por engano
dois amantes bêbados
desta vida torta
deste amor insano.
Ei-los que chegam 
pelos corredores da noite.

Vozes entrecortadas subterrâneas
a libido: bandeiras desfraldadas
franqueadas as resistências
entre quatro paredes.

Ouvidos fenomenólogos
atentos à matéria dos sonhos
ela gemendo gemidos ais
de dor ou gozo?
a lança atravessada
ele, guerreiro silencioso
rodando colinas.

Tão ecoados "ai amor"
e depois o silêncio
tempestade e convulsão
em sepultado orgasmo.

Depois mais gemidos
num poço de silêncio
guerra nas estrelas do sonho
o amor esgrime as estocadas
entreatos gemidos ais trêmulos!

Assim chegados
assim saídos tão repentinamente
os corpos lavados
as almas passadas a limpo
só meu coração confuso
gravador de gemidos
rascunho de insônia
a alma morta
buscando dormir
sobre escombros noturnos
os olhos pregados
no fundo escuro do quarto
amortalhado o silêncio
o amor também amortalhado a pio.

Lá fora chove
desde o princípio do mundo
desde o princípio da vida
e a tampa do tempo desaba.

de Luiz Buzatto