A mulher geme no quarto
coitada na madrugada
E batem à minha porta
por engano
dois amantes bêbados
desta vida torta
deste amor insano.
Ei-los que chegam
pelos corredores da noite.
Vozes entrecortadas subterrâneas
a libido: bandeiras desfraldadas
franqueadas as resistências
entre quatro paredes.
Ouvidos fenomenólogos
atentos à matéria dos sonhos
ela gemendo gemidos ais
de dor ou gozo?
a lança atravessada
ele, guerreiro silencioso
rodando colinas.
Tão ecoados "ai amor"
e depois o silêncio
tempestade e convulsão
em sepultado orgasmo.
Depois mais gemidos
num poço de silêncio
guerra nas estrelas do sonho
o amor esgrime as estocadas
entreatos gemidos ais trêmulos!
Assim chegados
assim saídos tão repentinamente
os corpos lavados
as almas passadas a limpo
só meu coração confuso
gravador de gemidos
rascunho de insônia
a alma morta
buscando dormir
sobre escombros noturnos
os olhos pregados
no fundo escuro do quarto
amortalhado o silêncio
o amor também amortalhado a pio.
Lá fora chove
desde o princípio do mundo
desde o princípio da vida
e a tampa do tempo desaba.
de Luiz Buzatto